'Filho, transfere a propina': veja mensagens que ajudaram PF a descobrir fraudes na mineração
Operação criminosa operava por meio de empresas de fachadas e laranjas, diz PF A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira (17) ordens de prisão e mandados...

Operação criminosa operava por meio de empresas de fachadas e laranjas, diz PF A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira (17) ordens de prisão e mandados de busca e apreensão durante uma operação sobre fraudes de licenças ambientais no setor de mineração. Segundo a PF, trocas de mensagens ajudaram a confirmar um esquema que pagou mais de R$ 3 milhões em propinas a servidores públicos (leia abaixo). Em uma das conversas, uma das investigadas pede ao filho que seja feita a transferência de R$ 7,5 mil de propina. Entre os principais investigados estão: Rodrigo de Melo Teixeira: delegado da Polícia Federal em MG e apontado como gestor oculto das empresas Gmais e Brava; envolvido em negociações ilegais e uso indevido da PF. Gilberto Horta: articulador externo e intermediário de propinas. Úrsula Deroma: controladora da Brazmine e intermediadora de cessões minerárias. Phillipe Deroma Furtado: operador financeiro da organização e filho de Úrsula. Marcos Arthur Mendonça: marido de Úrsula, executor de pagamentos ilícitos. Hidelbrando Canabrava Rodrigues Neto: sócio da Brava e articulador de corrupção. Marconi Tarbes Vianna: ex-diretor da Vale. Kelly Batista: delegada da PF mobilizada por Rodrigo para ações policiais sem respaldo formal. Outro alvo da operação foi o empresário Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como chefe do grupo criminoso, e o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Caio Mario Seabra. O g1 entrou em contato com as defesas dos investigados, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. Os mandados foram cumpridos em Minas Gerais, no Distrito Federal, em Alagoas e no Rio de Janeiro. Até a última atualização desta reportagem, havia 15 presos e 2 foragidos. PERFIS: veja quem foram os alvos da operação ENTENDA: Justiça bloqueou mais de R$ 1,5 bilhão Trocas de mensagens O g1 e a TV Globo tiveram acesso à representação criminal apresentada pela Polícia Federal à Justiça. Durante as investigações, a PF interceptou mensagens que ajudaram a revelar o funcionamento da organização criminosa. As conversas mostram como os investigados articulavam o pagamento de propinas, negociavam licenças ambientais e ocultavam a participação de servidores públicos em empresas de fachada, além de evidenciarem o uso do aparato da própria polícia para interesses privados. Veja, abaixo, alguns trechos das conversas: "Filho, se puder transfere a propina de R$ 7.500, por favor" Pelo WhatsApp, Úrsula Deroma solicitou ao filho Phillipe que transferisse R$ 7,5 mil a Gilberto Horta. Conforme a PF, o valor foi identificado como propina para liberação da autorização de manejo de fauna do Projeto Bela Vista, um empreendimento minerário na cidade de Bela Vista de Minas. Troca de mensagens entre Úrsula Demora e o filho Reprodução/TV Globo "Vamos manter um arquivo digital de todos os documentos do Projeto Topázio aqui no grupo Gmais" De acordo com as investigações, o delegado Rodrigo Teixeira, embora não fosse sócio formal da Gmais, coordenava ativamente as ações da empresa e fazia negociação com outros empresários. Em mensagens em um grupo de WhatsApp, ele demonstrou controle sobre a gestão do negócio, organizando documentos e orientando os demais membros sobre suas atividades. Trecho de representação criminal da PF associa delegado à Gmais, empresa onde ele seria gestor oculto Reprodução "Eu consegui um contato lá na ANM, e fechei dois alvarás, R$ 8 mil por cada um" Em outra troca de mensagens, Úrsula Deroma relatou ao filho Phillipe uma negociação direta com um servidor da ANM para a liberação de alvarás. A emissão do documento estava condicionada ao pagamento de R$ 16 mil. "Eu consegui um contato lá na ANM, e fechei dois alvarás, R$ 8 mil por cada um", disse investigada ao filho Reprodução "Essas são as DAEs para pagar... depois a gente transfere nossa parte" Via WhatsApp, Gilberto Horta enviou boletos de taxas ambientais e orientou os demais envolvidos no esquema. Para a PF, as mensagens mostram como ele centralizava a logística dos pagamentos, inclusive os ilícitos, e exercia influência sobre servidores de órgãos ambientais, como a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Via WhatsApp, Gilberto Horta enviou boletos de taxas ambientais e orientou os demais envolvidos no esquema sobre o pagamento Reprodução Operação Rejeito PF prende diretor da Agência Nacional de Mineração em operação que investiga corrupção no setor A operação faz parte de uma investigação que identificou uma organização criminosa que atua no setor de mineração para fraudar licenças ambientais por meio de pagamento de propina para agentes públicos em nível federal e estadual. A Justiça Federal determinou o sequestro e o bloqueio de bens no valor de R$ 1,5 bilhão. Em Minas, foram 17 alvos, sendo que alguns deles possuíam mais de um mandado, e 15 presos, segundo apuração da TV Globo (veja quem são mais abaixo). Duas pessoas estão foragidas. O inquérito foi aberto em 2020 e apontou que, para agir impunemente e ampliar os negócios, o grupo criminoso corrompeu integrantes de diversos órgãos, como a Agência Nacional de Mineração (ANM), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas (FEAM), Secretaria de Estado do Meio Ambiente, entre outros. Conforme a investigação, mais de R$ 3 milhões foram pagos em propina a agentes públicos. Alguns dos alvos são suspeitos de receber mesada para favorecer os interesses da organização. Por nota, a ANM afirmou que não houve comunicação oficial à agência sobre eventuais medidas envolvendo servidores ou dirigentes (veja a íntegra da nota ao fim da reportagem). Perfil dos envolvidos Alan Cavalcante do Nascimento, apontado como chefe do grupo criminoso. Alan Cavalcante do Nascimento Reprodução Caio Mario Seabra, diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM) desde 2020. Ele é advogado especialista em direito ambiental. O Plenário do Senado aprovou, em 2023, a nomeação de Caio para a diretoria da Agência Nacional de Mineração (ANM). Na época, foram 48 votos favoráveis e 11 votos contrários. Caio Mario Seabra, diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM) Divulgação/ANM João Alberto Paixão Lages, também sócio de Alan na mesma empresa e articulador do esquema. Foi suplente de 04/02/2015 a 03/05/2016 na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Entre 2013 e 2014, foi secretário nacional de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. João Alberto Paixão Lages, também sócio de Alan na mesma empresa e articulador do esquema. Clarissa Barçante/ALMG Rodrigo de Melo Teixeira, delegado da Polícia Federal de Minas Gerais (PF-MG). É suspeito de se ser sócio de uma empresa de mineração que fazia parte do esquema. Teixeira foi secretário adjunto da Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais (2015-2016) e presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (2016-2018). Em 2018, assumiu a Superintendência da Polícia Federal e, posteriormente, atuou como secretário adjunto de Segurança da Prefeitura de Belo Horizonte/MG (2019-2022). Entre 2023 e 2024, foi diretor de Polícia Administrativa da Polícia Federal. Rodrigo de Melo Teixeira, delegado da Polícia Federal de MG Reprodução/TV Globo Breno Esteves Lasmar, diretor-geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Lasmar também foi diretor de Gestão das Águas e Apoio aos Comitês de Bacias da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Superintendente de Fiscalização Ambiental Integrada e chefe de Gabinete da Fundação Estadual do Meio Ambiente. Breno Esteves Lasmar Ricardo Barbosa/ALMG Fernando Benício de Oliveira Paula, membro do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Fernando é conselheiro da Associação Ambiental e Cultural Zeladoria do Planeta, uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, cadastrada no estado de Minas Gerais como entidade Socioambiental. Fernando Benício de Oliveira Paula Fábio Ortolan/ACMinas Fernando Baliani da Silva, diretor de Gestão Regional da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). Baliani também atuou como superintendente de Apoio à Regularização Ambiental e presidente da Câmara de Atividades Industriais, em 2023. Fernando Baliani da Silva Alexandre Netto/ALMG Helder Adriano de Freitas, sócio de Alan na empresa mineração Gute Sicht e apontado como articulador com servidores públicos e representantes de órgãos ambientais para manipular processos de licenciamento. O que diz a ANM "A Agência Nacional de Mineração (ANM) tomou conhecimento, pela imprensa, de operação da Polícia Federal realizada nesta quarta-feira (17). Até o momento, não houve comunicação oficial à Agência sobre eventuais medidas envolvendo servidores ou dirigentes. A ANM reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e a colaboração com as autoridades, sempre que formalmente demandada, observando o devido processo legal e a continuidade dos serviços regulatórios", informou. Casa de empresário alvo de operação contra esquema em mineração tem lago artificial, piscina e carpas PF/Divulgação A Polícia Federal prendeu 15 suspeitos numa operação contra a mineração ilegal em MG Reprodução/TV Globo Infográfico - Operação Rejeito, da Polícia Federal, revelou esquema de mineração ilegal em MG Arte/g1