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As estratégias que levaram Fuad Noman de desconhecido a vencedor das eleições em 4 meses

Em entrevista ao g1, Paulo Vasconcelos, marqueteiro responsável pela campanha, relembra a trajetória desde o momento que o prefeito decidiu ser candidato à r...

As estratégias que levaram Fuad Noman de desconhecido a vencedor das eleições em 4 meses
As estratégias que levaram Fuad Noman de desconhecido a vencedor das eleições em 4 meses (Foto: Reprodução)

Em entrevista ao g1, Paulo Vasconcelos, marqueteiro responsável pela campanha, relembra a trajetória desde o momento que o prefeito decidiu ser candidato à reeleição até o resultado nas urnas — passando por episódios como a descoberta de um câncer e os ataques a um livro escrito por ele. Fuad Noman mostrando boneco inspirado nele mesmo, no estilo 'Funko Pop' Acervo Pessoal As primeiras pesquisas eleitorais para a Prefeitura de Belo Horizonte, realizadas entre junho e julho deste ano, mostravam um prefeito desconhecido e com dificuldade de chegar aos 10% das intenções de voto. O resultado das eleições, que neste domingo (3) completa uma semana, mostrou uma reviravolta. Fuad Noman (PSD) foi reeleito com 53,73% dos votos válidos. Reverter esse cenário em poucos meses empenhou o trabalho de 120 profissionais de comunicação, divididos nas áreas de criação, produção de vídeo, produção de áudio e redes sociais. Juntos, buscaram o objetivo de emplacar sob Fuad a imagem do "bom velhinho", que entrega obras enquanto usa suspensórios. Na liderança desse projeto está um marqueteiro com 35 anos de carreira. Paulo Vasconcelos começou trabalhando na pré-campanha de Fernando Collor à presidência da República, em 1989, e, ao longo do tempo, prestou serviços para nomes como Hélio Garcia (MDB), Márcio Lacerda (PSB), Marília Campos (PT) e Aécio Neves (PSDB). Paulo e Fuad se conhecem bem antes de o prefeito reeleito assumir a gestão da capital, em 2022 "Eu conheci o Fuad sendo um técnico sério e respeitado no governo Aécio [Neves]. Ele começa como Secretário de Fazenda, depois vira de Obras e eu ia buscar informações com ele para saber como estavam as coisas no governo", relembrou o marqueteiro. Anos mais tarde, Vasconcelos passou a prestar serviço para Alexandre Kalil e se reencontrou com Fuad, que foi Secretário da Fazenda na primeira gestão do ex-prefeito e vice na segunda. Os primeiros passos na PBH Em 2022, após a saída de Kalil para disputar o governo do estado, Vasconcelos e Fuad passaram a ter encontros regulares para conversar sobre a comunicação da prefeitura. As agências de publicidade que prestavam serviço para a Prefeitura de Belo Horizonte foram trocadas. "Enquanto o Kalil não fazia propaganda e falava muito com a mídia, Fuad era um técnico, que não tinha esse talento. A comunicação era uma ferramenta de apoio importante para ele", relembra o publicitário. As equipes de comunicação, então, começaram a se debruçar sob os bancos de dados da prefeitura em busca dos resultados da gestão. Fuad passou a ter aparições públicas, concedendo mais entrevistas coletivas de imprensa. Fuad Noman e o marqueteiro Paulo Vasconcelos. Acervo Pessoal 'Gabriel construiu um candidato' O marqueteiro relembrou que as primeiras conversas sobre a campanha de Fuad surgiram ao longo da presidência do vereador Gabriel Azevedo (MDB) na Câmara Municipal de Belo Horizonte — período marcado por rivalidades entre Legislativo e Executivo. "Eu costumo dizer que o Gabriel Azevedo construiu um candidato. A hostilidade da Câmara era tão grande e a ausência de um sucessor fazia com que muitos buscassem esse lugar. O Fuad era sempre a pessoa a ser criticada e é aí que ele decide ser candidato, no início deste ano", narrou Paulo Vasconcelos. A estratégia central nessa época de ânimos acalorados era evitar os confrontos diretos com o presidente da Casa. "A gente ia perder", confessou o marqueteiro, completando que o foco estava nas realizações de Fuad frente à Prefeitura. A equipe intensificou os estudos sobre a realidade da prefeitura e criou um grupo técnico para discutir e definir os rumos da comunicação do governo. Fuad tinha uma assento fixo nessas reuniões. Primeiras conversas eleitorais Quando decidiu ser candidato à reeleição, Fuad convidou Vasconcelos para chefiar a campanha. O publicitário aceitou e trouxe com ele um antigo parceiro, Otávio Cabral. Vasconcelos não só embarcou na campanha de Fuad, mas também na de Alexandre Ramagem (PL) à Prefeitura do Rio de Janeiro, ao lado de Guilherme Raffo, na de Marília Campos (PT) à Prefeitura de Contagem, e na de candidatos em Nova Iguaçu (RJ) e Petrópolis (RJ), em parceria com Rômulo Veiga, e na de Duque de Caxias (RJ) e Belford Roxo (RJ), com o mesmo companheiro de BH. "A gente imaginava uma aliança de centro-esquerda que não aconteceu. Pelo contrário: as críticas mais duras e estruturadas vieram da própria esquerda, de Duda [Salabert, do PDT] e Rogério [Correia, do PT], além do próprio Gabriel, enquanto a direita surfava tranquila", rememorou o publicitário. A incógnita e o desembarque de Kalil Antes de uma definição formal do ex-prefeito Alexandre Kalil, que acabou apoiando Mauro Tramonte (Republicanos) nas eleições, o marqueteiro estruturou duas campanhas: uma com ele e outra sem ele. "O Kalil ainda era uma incógnita e aí eu fiz duas campanhas. A primeira eu considerava respeitosamente a presença dele, pensando em 'Kalil começou e Fuad continuou'. Quando ele sai, eu abro mão de narrar a campanha em seis ou quatro anos e foco estrategicamente nos dois anos e meio do Fuad", revelou Vasconcelos. Retirar totalmente a imagem de Kalil da campanha de Fuad parecia ser uma missão impossível. "A estratégia era reconhecer o papel histórico dos prefeitos, para o eleitor olhar para aquilo e dizer que estava tudo certo e que era assim mesmo que funcionava. Mostrou o que o Fuad fez e faz, reconheceu os méritos dos outros e ali o Kalil sumiu", relembrou. Fuad Noman fala sobre fim do tratamento contra câncer Tratamento de câncer Era uma sexta-feira quando Paulo foi convocado para uma reunião com Fuad sobre a campanha. Ali o prefeito revelou para o marqueteiro que iniciaria um tratamento contra um câncer. "No domingo seguinte, ele conversou com os filhos. Ele queria muito continuar e meu papel ali era dizer quais eram os perigos. Ele decidiu seguir e foi muito especial. Eu nunca tinha vivido isso, visto um homem enfrentar isso com tanta energia, aos 77 anos", disse Paulo Vasconcelos. A partir daí, os rumos da campanha de Fuad mudaram. Vasconcelos relembrou que o prefeito passou a ter algumas dificuldades físicas em virtude da quimioterapia e, por isso, deixou materiais prontos para veiculação futura, caso precisasse interromper os trabalhos de campanha para tratar da saúde. Esses materiais nunca foram utilizados, segundo Vasconcelos. "Ele reagia bem ao tratamento. Então, tinha candidato disponível para gravação o tempo todo", completou. A conciliação entre tratamento e campanha ficou um pouco mais difícil no final de agosto, com a disputa já em pleno vapor. "Tinha dias que ele estava mais cansado, mais inchado, dormindo mal. No primeiro turno, a não participação em debates foi um cuidado com a doença. No segundo, foi estratégia", revelou o marqueteiro. Estratégias a partir das críticas A campanha de Fuad recebeu com surpresa os ataques que vieram das campanhas de esquerda e de centro, como de Duda Salabert, Rogério Correia e Gabriel, "enquanto a direita estava caminhando livre, leve e solta", como descreveu o publicitário. A soma dos ataques vindos da esquerda e o alto número de candidatos de direita resultou em uma campanha sem padrinhos. "A chegada no segundo turno foi [mérito] dele, do Fuad", disse Vasconcelos. O publicitário disse que Fuad não levou as críticas dos candidatos de esquerda para o pessoal. Eles foram os primeiros a encampar apoio ao prefeito no segundo turno. "A Duda ligou para ele ainda na apuração, pediu uma conversa e ele ficou feliz. Rogério ligou também. Ele entendeu que era do jogo democrático", completou. Fuad em reunião com o marqueteiro Paulo Vasconcelos e com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), um dos poucos padrinhos que apareceram na campanha. Acervo Pessoal Cobiça no segundo turno Após um 1º turno de uma relação 'light' entre Fuad e Bruno Engler (PL), que terminou em primeiro lugar, o clima mudou. A campanha do adversário do prefeito começou a investir na pauta de costumes. Um dos alvos foi o livro de ficção "Cobiça", escrito por Fuad, especialmente uma passagem sobre um estupro, retirada de contexto. Mas para Vasconcelos, o aumento da temperatura era desejado. "A narrativa do Bruno nos ajudou bastante. Eu sonhei com a importação da agressividade e da estupidez [das eleições em] São Paulo", revelou o marqueteiro. Bruno começou a campanha do segundo turno terceirizando a responsabilidade pelas críticas ao livro de Fuad para aliados, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e a deputada estadual Chiara Biondini (PL). "E quanto mais ele batia, mais eu adocicava a campanha, mais eu colocava no ar mostrando o bom velhinho. A estratégia era não deixar a rejeição do Fuad crescer e estimular a rejeição ao Bruno", completou. A avaliação da campanha de Fuad é que a estratégia de Engler de trazer os costumes para o debate chegou a tirar votos do atual prefeito, mas não os transferiu para o adversário — essas pessoas decidiram votar branco, nulo ou pela abstenção. "[Bruno] destruiu a simpatia que os cidadãos de centro-direita estavam construindo [por ele], ao passar da conta", completou. O sucesso da construção da imagem Por um lado, uma campanha focando em atitudes e realizações concretas de Fuad, para passar uma ideia de força. Por outro, o foco era a doçura e a sensibilidade de um "bom velhinho". No fim, uma vitória com 53,73% dos votos válidos. "Fuad emanava caráter, trazia credibilidade. [...] Diferente de outras figuras que eu convivi, não é um popstar. Tem conteúdo, é simples, fácil de lidar. Virou um cara que todo mundo [que trabalhava na campanha] fazia questão de cumprimentar. Isso deu a ele um prazer enorme de estar ali. E o desempenho reflete esse lado simpático e afável que perceberam no candidato", avaliou o marqueteiro, que não escondeu o carinho pessoal que construiu pelo prefeito reeleito ao longo da caminhada. Vídeos mais assistidos do g1 MG

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