Após 65 anos, irmãs separadas na infância se reencontram com ajuda das redes sociais: 'Uma vida inteira esperando por um abraço'
Irmãs se reencontram após 65 anos separadas com ajuda das redes sociais Aos 77 anos, Nair Lucinda de Andrade Ventura reencontrou a irmã Nadir Egídio de Andr...

Irmãs se reencontram após 65 anos separadas com ajuda das redes sociais Aos 77 anos, Nair Lucinda de Andrade Ventura reencontrou a irmã Nadir Egídio de Andrade, de quem foi separada ainda na infância. Foram mais de 65 anos de distância, silêncio e saudade. O destino, com a ajuda da internet e a força incansável das filhas, finalmente permitiu que as duas se abraçassem novamente. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Zona da Mata no WhatsApp O reencontro aconteceu após uma mobilização que atravessou anos e diferentes estados. Belmarlet Silvestre Ventura, filha de Nair, que mora em Fortaleza (CE), passou mais de cinco anos em busca de pistas da família perdida da mãe. “Foram anos de choro, de dor, principalmente em datas como o Natal. Minha mãe sentia muito a falta da família dela”, relata Bel. Sem documentos, com poucas lembranças dos nomes e com o sobrenome alterado após o casamento, encontrar qualquer parente parecia uma tarefa impossível. Mas um post nas redes sociais mudou tudo. As irmãs Nair e Nadir se reencontraram depois de 65 anos separadas. Elton Moreira/TV Integração Por ser analfabeta, Nair contou com a ajuda do marido e das filhas para ditar um texto detalhado, no qual relatava a história de vida e pedia ajuda. Bel publicou o relato em um grupo do Facebook voltado à busca por pessoas desaparecidas. A carta começava assim: “Meu nome é Nair Lucinda de Andrade, conhecida como Didira. Moro em Muriaé, sou casada com José Francisco e estou em busca da minha família, da qual estou separada há mais de 60 anos…” Encontro de família na internet Menos de 24 horas após a postagem, uma administradora do grupo entrou em contato, pois acreditava ter encontrado alguém com um relato semelhante, no Pará. Ana Lúcia Costa Nunes, filha de Nadir, também já havia tentado encontrar a família perdida da mãe. “Sempre perguntava os nomes dos irmãos para ela. Publicava nas redes, em grupos, mas nunca aparecia nada. Quando vi a mensagem da administradora do grupo falando sobre a Nair… chorei muito. Achei que fosse golpe, mas fui confirmando os nomes, o da avó, os detalhes… aí entendi que era real”, contou. “Foi um susto. Eu não acreditei. Quando a Bel, minha filha, me ligou dizendo que tinha encontrado minha irmã, achei que fosse brincadeira. Só acreditei quando vi o rostinho dela na chamada de vídeo”, disse dona Nair, emocionada, em entrevista à TV Integração, sentada no sofá da sala de casa, em Muriaé, onde vive com o marido há mais de 50 anos. Depois da confirmação por videochamada, a família organizou a viagem de Nadir para Muriaé. O reencontro aconteceu na casa de Nair, no Bairro São Cristóvão, e foi marcado por abraços longos e muitas lágrimas. “Quando vi ela chegando, parecia que eu estava voltando no tempo, como se a gente nunca tivesse se separado”, disse Nair. LEIA TAMBÉM: Após 35 anos, irmãos se reencontram em Guarará, MG Uma vida inteira esperando por um abraço Nair foi expulsa de casa pelo pai aos 12 anos, em um contexto de violência, alcoolismo e abandono. “Ele era muito severo, muito rígido, minha mãe trabalhava demais, mas ele maltratava a gente”, relembra. Ela saiu de casa sem documentos, sem saber escrever e sem ter para onde ir. Foi parar em uma fazenda próxima à casa da família, perto de Nova Brasília. Depois, foi para a cidade vizinha, Governador Valadares, onde trabalhou como doméstica. Lá, conheceu o marido, com quem construiu uma nova vida em Muriaé. “Mas sempre faltava alguma coisa. Sempre tive o desejo de reencontrar meus irmãos. Essa era a lacuna da minha vida”, disse Nair. Depois que ela saiu de casa, todos os irmãos foram levados ainda jovens para o Pará em caminhões de fazendeiros, numa época em que a migração forçada de trabalhadores era comum — prática que hoje é considerada captação para trabalho análogo à escravidão. A família foi dividida, e cada filho seguiu um caminho diferente. Do outro lado do país, em Paragominas, no Pará, Nadir, agora com 74 anos, vivia com a mesma saudade e a mesma incerteza. “Achava que ela já tinha morrido. Foram tantos anos, né? Quando minha filha chegou no portão dizendo que acharam minha irmã, eu fiquei tremendo. Chorei muito. Meu coração bateu de novo. Foi uma vida inteira esperando por um abraço”, contou Nadir. A família que me faltava Família se reencontrou em Muriaé Elton Moreira/TV Integração Durante a visita a Muriaé, neste último fim de semana, que durou poucos dias, filhas, filhos e netos se conheceram. As famílias agora fazem planos para manter o vínculo e organizar um encontro no Natal para conhecer mais familiares no Pará. “Esse foi o presente da vida. A alegria que eu pensei que nunca mais ia sentir. A família que me faltava está aqui”, diz dona Nair, sorrindo com os olhos marejados em entrevista. O desejo é reencontrar os demais irmãos, que também foram separados na infância. Segundo as irmãs, ainda faltam notícias de três irmãos: Renato Egídio de Andrade, Maria Egídio de Andrade e Emanuel Egídio de Andrade, pois João Egídio de Andrade já faleceu. VÍDEOS: veja tudo sobre a Zona da Mata e Campos das Vertentes